QUAIS AS RAZÕES QUE LEVARAM AS AD'S AO ARREFECIMENTO NA PLANTAÇÃO DE NOVAS IGREJAS E NO AVANÇO MISSIONÁRIO NO NORDESTE?



QUAIS AS RAZÕES QUE LEVARAM AS AD'S AO ARREFECIMENTO NA PLANTAÇÃO DE NOVAS IGREJAS E NO AVANÇO MISSIONÁRIO NO NORDESTE?
(Luciano Costa)
Introdução: Problematizar a questão missiológica das AD's no Nordeste é um tanto quanto complexo, dada a sua relevante presença geográfica e histórica no mesmo, todavia, se faz necessário uma abordagem mais apurada e realista sobre a cosmovisão assembleiana sobre o desafio missionário no Nordeste, principalmente nas pequenas cidades, distritos e povoados inalcançados que ainda existem.
I- É necessário o levantamento de algumas hipóteses para tentar compreender esse fenômeno. Antes de qualquer conclusão ou assertiva sobre esse tema, reconheço sobremodo a contribuição e esforço dessa igreja para levar as boas novas nessa região. Leigos e voluntários levaram ao logo das décadas do Século XX o Evangelho através dessa denominação. Intrépidos, ousados, e abnegados homens e mulheres de Deus fizeram muito pelo Reino dentro de uma cosmovisão assembleiana. E mesmo nesse início de Século XXI as AD's continuam empenhadas em evangelizar, todavia, houve um arrefecimento na intensidade, na dinâmica e no voluntariado de obreiros leigos, plantadores de novas igrejas e envio de missionários transculturais. Quais explicações poderíamos encontrar para esse fenômeno??

II - A institucionalização traz inerentemente outras pré-ocupacões, provocando a multiplicação de esforços e recursos para auto- sustentá-la e fazer seu cronograma de funções e atividades se manterem funcionado.

A burocratização de alguns aspectos administrativos podem levar a retração da força dos obreiros leigos que sentem-se chamados para irem ao campo plantar novas igrejas. Como tudo passa a ser planejado e orçado (e não pode nem deve ser diferente) o aspecto missiológico as vezes não entra no orçamento, não está nos planos, da expansão denominacional, há novos templos sedes a serem construídos, novas congregações a serem ampliadas.
Todo esse processo da "máquina" institucional consome muitos recursos humanos e financeiros, energia, planejamento, e novas plantações de igrejas em áreas que não são muito "promissoras" acabam sendo adiadas e/ou esquecidas.
Não há um planejamento sobre como alcançar esses lugares com menos de 1% de evangélicos no Sertão nordestino. Há sim debates, fóruns, ações isoladas em alguns lugares, mas não temos um projeto a nível de região e nem uma agenda de plantação de novas igrejas para suprir essa necessidade.É uma característica nossa “assembleiana”, não planejar nossas ações missionárias. Nossas ações não são planejadas, apenas "direcionadas" por Deus.
É claro aqui não é uma crítica velada, que o Espírito Santo tenha a liberdade de separar e enviar nossos obreiros para a obra que Ele quiser, mas a nos compete a logística de impor as mãos (responsabilidade, comprometimento, cumplicidade, ação orientada por Deus e planejada pela igreja). O que Deus começou não o estrague o homem! Muitos projetos são projetos de Deus, foram iniciados pela sua vontade e querer, mas a falta de planejamento e engajamento por parte da igreja acaba por “sufocá-los” ou torná-los impraticáveis!

II- O próprio fator do crescimento gigantesco da denominação pode ter provocado o arrefecimento.
Ora, se já somos a maior denominação brasileira pentecostal, estamos indo muito bem, obrigado! Mas essa análise superficial, ou esse ufanista, acaba por atrapalhar e tolher nossos esforços missionários. Se não levantarmos nossos olhos não veremos nosso "quintal" branco para a colheita. E olha que estou falando de algo extremamente visível, o quintal de nossa casa!
As vezes estamos olhando para o outro lado do mundo, mas ainda não nos sensibilizarmos com àqueles que estão em nosso entorno. Os desafios da evangelização dos povos minoritários no Nordeste deveriam ser colocados nas pautas das Convenções, AGO’s, Fóruns, Congressos Missionários e afins. Deveríamos elaborar uma agenda missionária para podermos avançar e multiplicar nossos esforços no sentido de plantar e revitalizar novas igrejas.
A igreja nordestina é numerosa, cheia de recursos e diversa, mas está preocupada em alcançar os povos não evangelizados que estão em seu próprio contexto e região?
Se não? Por que não enxergamos esse desafio gigantesco que está sob nosso olhos?
Aonde nossa intencionalidade missionária arrefeceu?
III- Nossa missiologia é personalista.
O que quero dizer com isso? Que a visão de cada igreja será relativamente proporcional ao pastor que a está pastoreando nesse tempo presente. Podendo vir a deixar de existir, repito, podendo deixar de ser relevante se este sair do pastoreio da mesma. Muitos projetos missionários, bons, extraordinários até, são sepultados no culto de posse do novo líder que chega àquela igreja. Novas plantações de igrejas são abortadas, muitas vezes pela mesma razão!
Esse modelo personalista não promove um conscientização consistente na igreja, não gera uma consciência duradoura e que amadureça com o decorrer dos anos. Há repetidos processos de rupturas na construção dessa cosmovisão missionária, e assim sendo a igreja acaba perdendo o interesse pela temática, buscando apenas a superficialidade na práxis missionária.
Então, se os próprios líderes divergem sobre a relevância dessa temática, ora supervalorizando-a, outro momento relegando-a a apenas um culto de missões na igreja?  Como pode essa igreja olhar e identificar os desafios que estão no seu entorno? Essa igreja ou grande parte dela continuará caminhando indiferente e feliz para dentro de suas próprias prioridades. As quais, certamente não envolverão uma cosmovisão bíblica sobre missões!
Qual a proposta para mudar essa realidade?
IV- Uma igreja só vai até onde sua visão alcança.
A falta de visão dessa igreja ou a sua miopia pode ter várias causas. Não é simples diagnosticar rapidamente essas diversas causas. Posso até elencar algumas aqui, que são mais patentes e gritantes, mas sempre haverá algo mais que vai de um contexto para o outro.
A falta de uma cosmovisão bíblica e missionária traz sérios distúrbios sobre essa igreja.
Outro dia pensando sobre a ação missionária da igreja, cheguei a seguinte conclusão: "Uma boa missiologia está ligada a uma boa eclesiologia, isto é, uma igreja consciente de sua missão nesse mundo, é primeiramente uma igreja que sabe quem ela é! A identidade da igreja precede a missão! Se ela não sabe a que veio e nem para quais propostos está nesse mundo, como cumprirá sua missão"?
A falta de um ensino bíblico teológico com viés missiológico tem deixado a igreja a mercê de muitas ocupações que acabam roubando sua energia, tempo, recursos, e etc.  Temos realizado e nos gastado fazendo e priorizando tantas coisas e algumas até que Deus não nos mandou fazer!
V- Mobilizar, Envisionar, Treinar e Capacitar e Enviar-Sustentar uma "força tarefa" missionária nordestina para alcançar os desafios desse tempo.
Acredito muito no potencial da igreja nordestina, para cumprir sua missão evangelizadora-discipuladora para essa geração. Mas esse movimento não acontecerá se apenas um "punhado" de líderes se propuseram a orar, debater, planejar essas ações! Claro que é nos pequenos começos que se originam e se alcançam grandes avanços! O que quero dizer é que não podemos ficar apenas nos "pequenos começos".
Sem o engajamento das lideranças dos grandes centros, das grandes igrejas, continuaremos fazendo a nossa parte é claro, mas o desafio continuará quase que intocado, pelo potencial que temos poderíamos sugerir até um cronograma de plantação de igrejas por Estados do NE, onde cada estado iria mapear suas áreas mais críticas, sem presença de crentes ou sem igrejas, para planejar o envio de casais ou famílias para minimizar esse contraste. Enquanto temos igrejas ricas e superlotadas, a menos de 50km temos distritos e povoados sem nenhuma oportunidade de ouvir o evangelho... Por que não alcançamos essas comunidades?
Será que uma igreja com 200, 300 membros não pode ter uma filha para cuidar numa comunidade rural? Sustentar e enviar uma família missionária no sertão? Num quilombola? Numa comunidade cigana?
Será que não podemos dar um salário mínimo e um mínimo de condições e apoio para plantar uma nova igreja? Sem falar que a vitalidade que igrejas chegam a ter, quando plantam novas igrejas, elas se rejuvenescem! Bom, talvez alguém diga você é um sonhador! Tá sonhando! Sonho mesmo com uma igreja apaixonada por missões, por uma liderança apaixonada por missões!  Por um despertamento missionário nas nossas queridas AD's.
VI- "Aonde estiver o vosso coração aí estará o vosso tesouro"!
Talvez eu fuja um pouco da exegese bíblica, mas essa máxima pode muito bem se aplicar a realidade a igreja no NE. Onde estão os nossos maiores investimentos?
Como elencamos nossas prioridades orçamentárias? Quase sempre na questão do envio e da plantação de novas igrejas barramos no quesito " não temos condições" para tal.
Mas pergunto para ampliação do estacionamento? Para a construção do novo templo sede?
Para a ampliação daquela congregação daquele bairro de pessoas mais favorecidas? Para aquele evento do departamento tal? Para a celebração do Aniversário de 50 anos, 75 anos, etc....?
Espero não ser mal interpretado, sou pastor de igreja local e também promovemos isso em nossa congregação, todavia, o que essa cultura diz sobre nosso "tesouro"?

O que diz sobre nossas motivações? Então, não é que o desafio seja grande demais, é que estamos alimentando o "gigante" ao invés de confrontá-lo!
Urge a necessidade das AD's no NE se mobilizarem e criarem uma verdadeira "força tarefa" para vencermos esse "gigante" do desafio da plantação de novas igrejas e da evangelização dos povos minoritários que são nossos vizinhos!
Não podemos mais fazer "vistas grossas" e acharmos que o desafio não é nossa responsabilidade, temos sim, como líderes, que nos mobilizarmos e somarmos esforços, traçarmos metas, objetivos a serem alcançados coletivamente e localmente por cada Convenção e igrejas afiliadas.
Somente tendo essa compreensão podemos criar um “cultura missionária” comprometida com o desafio que nos "afronta" há décadas! Não podemos nos omitir nem terceirizar nossa missão.
Deus está em missão no NE, não podemos ficar de fora, se outras regiões do Brasil estão de olho no Nordeste, por que nós que aqui estamos e somos filhos desse chão, passaremos de largo e não nos colocaremos na brecha?

(Luciano Costa)
9 de maio de 2019. Fórum de Missões. Maceió -Alagoas.

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