HIPÓTESES SOBRE O DESACELERAMENTO DO CRESCIMENTO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL
(Luciano Costa)
Após dá uma olhada no vídeo que divulga o novo Projeto Eu Ganho Mais Um, projeto este lançado nacionalmente pelo CGADB e congêneres, um dado me chamou a atenção!! Vejamos, pois, a estatística que me deixou perplexo:
CRESCIMENTO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS
Anos 60/70 – 45%
Anos 70/80 – 22%
Hoje – Apenas 2%

A um longo processo de acomodação por parte das instituições quanto ao vigor e visão no decorrer dos anos. Nenhuma instituição consegue a longo prazo manter o mesmo ritmo e a mesma dinâmica sem que não seja necessário ocorrer mudanças em sua forma e modus operandi.
A igreja não está de fora desse processo de acomodação, como bem expressou Weber, acontece “a rotinização do carisma” e, por fim a “institucionalização do mesmo”. As AD’s começaram como um movimento, assim de denominava até pouco tempo atrás, um “Movimento Pentecostal”, ideia herdada dos suecos, e do pastor Levi Petrus, líder da Igreja Filadélfia em Estocolmo na Suécia, que era veementemente contra a ideia de denominação, sendo ligadas ao movimento de “igrejas livres” no referido país.
No princípio as AD’s no Brasil, cresceram entre ferrenha perseguição por parte dos Católicos e Protestantes que aqui estavam estabelecidos.  Contudo a ideia de que legitimava o movimento era exatamente a de que por não serem deste mundo, por isso eram perseguidos, esta constatação dava mais impulso aos novos conversos a militarem no evangelismo e “contra-atacar” as religiões pagãs ganhando seus adeptos para Cristo.
Deve nos preocupar tamanha disparidade no gráfico que mostra uma brusca queda no crescimento de uma igreja tão militante na área evangelística desde o seu início. Bernardo Campos, traça uma análise bastante interessante que pode nos ajudar a entender este fenômeno:
“Como se sabe, os movimentos religiosos – movimentos nos quais se destacam as expressões dos líderes – costumam viver um processo que inclui etapas como: 1- organização incipiente ou informal, surgida pela insatisfação com as igrejas existentes; 2 – organização formal; 3- eficiência máxima; 4- institucionalização em que as necessidades pessoais dos membros são suprimidas em favor das necessidades da nova organização eclesial; 5- desintegração. Em outro sentido, estas etapas podem ser caracterizadas como início, fusão, institucionalização, fragmentação e desaparecimento ou transformação. ”
Acredito que passamos por essas etapas. Agora estamos na “transformação” que requer adaptações várias por parte da instituição em agir e resolver seus dilemas sociais, administrativos e eclesiológicos sob esse prisma. Contudo, a fase-etapa mais difícil deve ter sido a de transição de “movimento pentecostal” à “denominação pentecostal”, houve muita resistência ao que era praticamente inevitável; pois como cresceu e se agigantou “precisou” se organizar como uma instituição religiosa e abrir mão do “carisma inicial”. Gedeon Alencar, nos informa como as ADs chegam aos anos 80.
“As ADs chegam ao final da década de 1980 celebrando uma “tradição”. Não podem mais ironizar (como faziam nos anos nascentes) as denominações tradicionais, porque agora ela é uma delas, com todas as vantagens e também os problemas. Grande, presente, solidificada, mas também dividida. Os ministérios cada vez mais se afastam uns dos outros, as Convenções não conseguem oficializar um modelo e os muitos pentecostalismos no mercado agora são opções válidas e concorrentes fortes. ” (ALENCAR. pág. 216. 2013).
A diversificação do pentecostalismo e o surgimento de novas igrejas “pentecostais” proporcionaram uma forte concorrência com a então majoritária Assembleia de Deus, que ao se aproximar de um século de existência se depara com os dilemas e exigências de uma grande instituição. A questão de ser tonar denominação é apenas um entre tantos desafios que esta tem que enfrentar. O crescimento provoca divisões por razões diversas, delimitação de atuação, em Estados, munícipios e até bairros das grandes metrópoles.
Então o “carisma” do início do movimento cede espaço para a burocratização, para a organização em setores, e etc. Outro fator era a sua escatologia pré-tribulacionista que impulsionava (não mais impulsiona?) seus membros a testemunhar sempre que possível, não importando a quem e o lugar. Hoje a evangelização se tornou algo “coletivo”, planejado, orquestrado e dirigido pela liderança e/ou quem ela determina.
O que era natural, agora se torna extraordinário! O que era diário, agora se torna evento! O que era missão de cada um, agora apenas é missão de todos??! Então acontece um arrefecimento na evangelização, por conseguinte a estatística comprova! ALENCAR. 2013, informa: “ Na década de 1990 a 2000, as ADs cresceram 245%. Em 1980, havia 2.439.763 membros e terminou o século com 8.418.140 membros na década seguinte 2000-2010, cresceu “apenas” 46%, alcançando 12.314.410 membros. ” Portanto, é visível que o crescimento diminuiu bastante, quem sabe por se perceber já como a maior igreja pentecostal do Brasil (alguns afirmam do mundo), a mesma haja se acomodado quanto a sua tarefa evangelizadora.
 Outros fatores podem também serem apontados como causadores do arrefecimento no crescimento assembleiano no Brasil.
 OUTROS FATORES QUE PODEM SER APONTADOS COMO CAUSA DO DESSACELERAMENTO DO CRESCIMENTOS DAS AD’s

Como foi dito, no decorrer dos anos o fervor inicial acaba sendo deixado de lado por novas maneiras e inovações que o cotidiano da sociedade em constante transformação acaba requerendo. Essas mudanças acabaram sendo ao longo do tempo algo que provocou resistência nas ADs brasileiras, logo os novos “modelos” pentecostais eram mais liberais: não pregavam uma vida ascética, utilizavam-se do rádio e da TV para pregar e realizar suas atividades evangelísticas.
1-     O fator dependência de Deus – oração e compromisso com uma vida de santidade.
É sabido que as AD’s cresceram com um colegiado de líderes em sua grande maioria leigos, pioneiros e desbravadores que pregavam pelo carisma do Espírito Santo, assim o “movimento pentecostal” assembleiano alcançou e logrou êxito em solo Tupiniquim. Nessa época, isto é, nas primeiras décadas (pelo menos até a década de 1950) a obra era levada a frente, através de muita oração, testemunho dado pelos novos conversos, e a chama pentecostal era o que impulsionava uma igreja crescente, que ainda não se preocupava com seu futuro denominacional.
Nesse período ainda não havia a grosso modo as disputas de “poder” e as decisões eram tomadas “sob a orientação de Deus”. Hoje a oração é relegada a segundo plano em muitas igrejas. São marcadas pelos segundos e minutos de um relógio, e o compromisso com a santidade também foi afetado.


2-     O fator a institucionalização do carisma. 
A questão da institucionalização do carisma é justamente o momento de transição de “Movimento pentecostal” para “denominação pentecostal”. Com todas as implicações que a mesma pode provocar a institucionalização era algo não premeditado, mas possivelmente inevitável. É difícil imaginar uma igreja tão grande sem uma organização institucional, porém há sempre o perigo das implicações burocráticas, administrativas mudar o ritmo, o roteiro que antes era privilégio de pessoas cheias dos carismas do Espírito Santo.
3-     O fator plantar novas igrejas.

O crescimento de uma igreja está relacionado a sua capacidade de plantar novas igrejas e discipular novos crentes para que estes possam discipular novos crentes e assim sucessivamente. A concentração nos grandes centros e capitais tem se tornado um impedimento ao avanço em outras regiões onde ainda não há igreja plantadas e nem testemunho do Evangelho. Mas o que houve com a preocupação inicial de abrir novos trabalhos e mantê-los? Por que se hoje somos uma igreja maior e a porcentagem de crescimento diminui? Onde estão os leigos que no passado eram os plantadores de igrejas? O que ocasionou esse estancamento no crescimento que a cada década minora mais? Darrin Pratrick, em seu livro O Plantador de Igreja, relata:
“Infelizmente, ao longo do caminho a igreja parou de plantar igrejas. Isso fez com que parassem de crescer e se tornarem antiquadas, perdendo seu impacto missionário e abandonado sua intenção original. Ela se distraiu da missão ao encontrar seu foco em sua própria estrutura. Essa tentação é tão séria agora quanto o foi na história da igreja. Driscoll escreve sabiamente que “uma igreja precisa estar tão formalmente organizada quanto necessária para abraçar sua missão e continuar nela, e nada mais”. Quando a igreja perde sua missão, ela perde seu alicerce, seu poder e sua influência”. (PATRICK. 2013. pág.245)

É evidente que não quero aplicar literalmente essa citação à nossa realidade como igreja; mas vejamos: não plantamos mais igrejas como antes, por isso o crescimento diminuiu. Também nos voltamos muito para a questão da instituição, em detrimento de outros aspectos que podem ser valorados sem, contudo, atrapalhar a instituição. Somos sim uma igreja relevante na nação, mas a acomodação não nos é favorável nesse momento.

4-     O fator teológico – novas teologias que cercam o arraial.
Nas questões teológicas, houve sim uma abertura para a aproximação de novas “teologias”. O pentecostalismo passa (com exceção) por uma “neopentecostalização” em suas práxis. Quando falo de uma neopentecostalização, fica evidente uma mudança não só comportamental, como por exemplo a questão dos usos e costumes, mas também na forma de crer. Não é raro as campanhas de libertação e outras, bem como em algumas lideranças e igrejas uma intensificação nos meios de arrecadação de ofertas. Pastores, líderes e escritores pentecostais tem sido ao longo dos anos influenciados pela teologia da prosperidade e do domínio; heresias provenientes dos EUA. Recentemente em um programa de TV veio um falso profeta norte-americano pedir ofertas estipuladas de até R$ 10.000,00 e isso com o aval de um “famoso” pastor assembleiano. Prometendo prosperidade e sucesso para quem assim ofertasse. 

5-     O fator acomodação e um visão centrífuga.

Quando olhamos o passado e a trajetória das AD’s somos tomados de um sentimento de nostalgia. Por décadas esta igreja foi exemplo em pioneirismo no alcance de novos campos, novas comunidades isoladas entre outras. Hoje, em muitas cidades e capitais a visão é outra. Estamos muito confortáveis em nossas catedrais. E agora em torno de 90% de nossas atividades estão voltadas para o público gospel, e em muitas igrejas quase não há mais planejamento para a evangelização. Nos envolvemos em tantas atividades que acabamos esquecendo do primordial: a evangelização e o discipulado. Esta é uma visão centrífuga, a qual foi praticada por Israel no AT, onde a adoração devia acontecer no Templo e todos deviam se voltar para ele, no intuito de adorar ao Senhor.






CONCLUSÃO

Há tantas razões para “justificar” essa drástica queda no crescimento anual das AD’s no Brasil, no entanto, é preciso admitir que todos somos culpados! Em face de desprezarmos a ação do Espírito Santo e provocarmos tantas mudanças no modelo pentecostal que recebemos no início do século passado.  É evidente que a igreja não passaria por uma sociedade em constante transformação sem esta também sofrer mudanças, todavia, se voltarmos ao lugar da oração, do quebrantamento, da santidade, do compromisso com a Palavra, com a prática da evangelização contextualizada e um discipulado relevante, com certeza obteremos melhores resultados.
Sabemos que hoje existem tantos modelos de “pentecostalismo” que são mais “atrativos”, pelo seu pragmatismo, hedonismo e misticismo. A AD’s ainda não consideradas como igrejas sérias, nossa igreja tem um legado histórico, doutrinário e pioneiro em nossa nação, convém olharmos para o passado e procuramos não cometer os mesmos excessos e erros, olharmos para o presente e percebermos que os desafios não são mais os mesmos em alguns sentidos, porém cabe-nos seguirmos superando os desafios, procurando melhorar a nossa práxis evangelizadora e discipuladora sem perder o foco.  



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