Um modelo missionário que precisa de reflexão!
Um
modelo missionário que precisa de reflexão!
Luciano
Costa
Há muita coisa sendo dita
sobre missões, há muita gente “envolvida” com a missão, outros apenas tentando
fazer missões! Explico, missão é o que Deus está fazendo no mundo, é o seu
plano em curso na história da humanidade, é a Missio Dei, isto é, a Missão de Deus. Nossa preocupação deveria ser
se estamos nessa missão que é de Deus! E missões? Missões são nossas ações que
realizamos através, por meio e com a igreja. Podemos ter tantas programações e
eventos e chamar isso de fazer missões. Contudo, sem levar em conta o “outro” o
qual procuramos alcançar; é exatamente sobre isso que quero falar, nesse texto.
Nosso modelo missionário
deve responder a algumas indagações: O que significa ser um missionário? Quem
são os vocacionados na igreja e o que eles foram chamados a realizar nessa
missão? Nossa maneira de “ser igreja” é uma resposta aos dilemas do povo no
qual estamos inseridos? Será que nossa “apresentação” do evangelho é
compreensível e assimilável àqueles a quem convivemos-pregamos? Estamos ouvindo
o “outro” a quem nos dirigimos, ou apenas apresentamos nossa solução para seus
problemas?
Primeiro, nós
reproduzimos um modelo isolacionista, no qual não “nos misturamos” com a
comunidade na qual servimos. Nos sentimos melhores, e deixamos isso claro,
senão por palavras, mas certamente por atitudes. Nossa vida na comunidade
muitas vezes se limita a redoma da “ vida eclesiástica”, não ousamos “pisar”
fora desse paradigma, pois tememos nos corromper, e perder nossos valores
cristãos. Pregando e vivendo nessa perspectiva transformamos nossa comunidade
evangélica num “gueto fechado”, com características próprias, linguagem própria
e com dispositivos de defesa, que mais repele àqueles a quem queremos trazer
para perto, senão para dentro.
Outro ponto que
precisamos pensar sobre sob a luz das Sagradas Escrituras, é a questão da
vocação. Esse tema tem me “chamado” a atenção. Acredito que boa parte da
deficiência que hora enfrentamos e vivenciamos tem forte ligação com a maneira
como endentemos e praticamos nossa eclesiologia e nossa concepção de vocação. Conversando
outro dia com uma psicopedagoga de nossa igreja em Caicó, fiquei maravilhado
como Deus trabalha na vida daqueles que entendem (mesmo que as vezes não com
muita clareza), ela me contava sobre seu novo desafio no trabalho em um
determinado bairro daquela cidade, como ela lida com adolescentes que vivem em
meio a pobreza e uma miséria ética e social. Como ela preparou uma sala com
carinho, decorou, ornamentou para receber essas crianças e ouvir suas
histórias, e ela apresentar o amor do Pai a elas, que na verdade não reconhecem
nem a figura paterna, pela ausência da mesma.
E essas próprias crianças
e adolescentes testificam que se sentem bem naquela sala, que há algo diferente
ali, eu expliquei para ela que é a presença de Deus, que ela manifesta naquele
lugar! Isso é missão! Para quem passa, para quem ver não é uma atividade
elaborada, não é uma programação da igreja, mas é a igreja viva atuando através
de seus membros, de pessoas anônimas, que se deixam conduzir por Deus. Eu disse
para ela você é tão missionária quanto alguém que foi enviado a algum lugar,
pois Deus a colocou ali para fazer a diferença, para representá-lo através de
seu trabalho que glorifica a Cristo sendo feito com amor e pelo amor aquelas
pessoas.
Acredito que esse relato
acima responde em parte o que significa ser vocacionado e o que os estes foram
chamados a fazer? Precisamos abrir nossa visão, para entender que vocacionados
não é somente uma classe privilegiada, mas que todos podem e devem glorificar a
Cristo onde estão, com os talentos e dons que Deus lhes concedeu.
Nossa maneira de ser
igreja corresponde à realidade onde estamos? Ou estamos descontextualizados?
Nossa mensagem alcança a cosmovisão daqueles a quem pregamos? Geralmente tenho
observado (aqui no contexto do sertão do RN), que os missionários que tem
conseguido obter mais êxito no desempenho de suas atividades missionárias, são
exatamente aqueles que melhor se relacionam com o pessoal da comunidade!
Isolar-se para manter um padrão de “santo”, não tem sido o melhor método, a
santidade evidencia-se precisamente nos relacionamentos, nas atitudes com o
“outro”.
Por falar no “outro” quem
é esse “outro”? Como ele se encontra? Será que ele pode perceber que a igreja
se importa com ele? Ou nossa ação evangelizadora não nos permite o diálogo? As
vezes as pessoas não aceitam o evangelho, porque primeiro a impressão que lhe
foi repassada é o que o dono do evangelho só aceita pessoas “perfeitas”. O
padrão é tão elevado que aqueles que querem se chegar, vir para perto as vezes
não encontra acesso, nós em muitos momentos tornamos as boas novas de salvação
em uma má notícia, apenas condenatória e não uma mensagem de reconciliação!
Para entender o “outro”
precisamos caminhar com ele, nos assentar com ele, ouvi-lo antes de lhe dizer
que nós já temos tudo “pronto”, temos o “pacote fechado” e que ele precisa
apenas se submeter. Pregar o evangelho a distância distorce a comunicação, dá a
ideia de que estamos num patamar mais elevado e que os demais estão abaixo,
distantes do amor de Deus. Demonstramos uma superioridade e uma “pureza
farisaica”, como os fariseus que reclamavam de Cristo que se assentava para
comer com pecadores.
Outro ponto a ser
lembrado é que já ouvi missionários chamando o “outro” de “endemoninhado”, “
filho do diabo” e etc; precisamos entender, que não podemos perceber o “outro”
que se opõem a nós como nosso inimigo mortal, ele é o “outro” que não
compreendeu o amor de Deus, por isso está em rebelião contra Deus e não somente
contra nós, todavia nós temos o ministério da reconciliação! Há mais
considerações, que provavelmente ficarão para um próximo texto.
Miss. Luciano Costa é
casado com Jussária Costa, tem dois filhos: Lucas Ezequiel e Lêda Soares.
Atua com plantação e
revitalização de igrejas no sertão do RN há dez anos.
Coordenador da EMITES-
Escola Missionária de Treinamento Estratégico para o Sertão.
Atualmente é pastor da
Assembleia de Deus na cidade de São Fernando-RN (Sertão do Seridó)
0 comentários:
Postar um comentário